Capsulite Adesiva ou "Ombro Congelado"

Capsulite Adesiva ou "Ombro Congelado"
05.03.2020

Capsulite Adesiva ou "Ombro Congelado"

A capsulite adesiva ou “ombro congelado” é uma doença do complexo do ombro que está associada a dor e a um quadro progressivo de défice de mobilidade, que aumenta o grau de incapacidade para a realização de tarefas quotidianas.

Esta doença ocorre em 2-5% da população Mundial (Neviaser, A. S., & Hannafin, 2010), com maior prevalência nas mulheres do que nos homens e, geralmente é observada entre os 40-60 anos de idade (Wong & Tan, 2010). Em 14% dos casos esta doença poderá ser bilateral.

Esta condição patológica resulta da inflamação da cápsula articular e da membrana sinovial seguida de fibrose, cicatrização e contratura do complexo capsulo-ligamentar (Donatelli, Ruivo, Thurner, & Ibrahim, 2014). Há inclusive um encurtamento de todos os ligamentos e a formação de aderências. Todas estas alterações capsulo-ligamentares resultam numa perda global da amplitude de movimento passivo e ativo do ombro, sendo a rotação externa o movimento mais  limitado (Neviaser, AS e Hannafin, 2010;Uhthoff & Boileau, 2007).

O diagnóstico da capsulite adesiva é um diagnóstico clínico e podemos dividi-lo em duas categorias: primária, na qual não existe uma causa óbvia para o seu aparecimento, referindo-se que é de causa desconhecida, ou secundária em que é identificada uma causa como trauma ou inatividade forçada após trauma ou cirurgia na extremidade superior afetada antes de aparecerem os sintomas no ombro.

Pessoas com diabetes ou doenças da tiróide parecem ser mais propensas a desenvolver um “ombro congelado”

Tradicionalmente podem ser identificadas 3 fases/ estadios da doença.

O “ombro congelado”pode ser descrito como passando por três estadios

(i) fase de dor e congelamento

Neste estadio a dor vai aumentando progressivamente. Inicialmente a dor é apenas sentida de noite e em certas atividades quotidianas (por exemplo: escovar os cabelos, mão no bolso de trás, etc), e, geralmente progride para dor constante mesmo em repouso e que se agrava com movimento do ombro. Há uma redução progressiva da mobilidade que vai impedindo o sujeito de levantar o braço e de chegar por exemplo atrás das costas.

(ii) fase de rigidez

A dor começa a diminuir, mas mantem-se a rigidez global. O movimento do ombro ainda é muito restrito.

( iii) fase de descongelamento ou recuperação.

Nesta fase, a dor é quase inexistente e o movimento é restrito, mas retornando ao normal.

Pacientes que sofrem de capsulite adesiva do ombro podem enfrentar meses a anos de dor progressiva, rigidez e incapacidade ((Jewell, D. V., Riddle, D. L., & Thacker, 2009), com duração média de 30,1 meses (variação de 12 a 42 meses) (Lewis, 2014).

O diagnóstico da doença é realizado pelo médico, que terá em consideração a idade da pessoa, mobilidade ativa e passiva, sendo que quem tem capsulite adesive, por exemplo, tem uma rotação externa passiva e ativa iguais e, exames complementares de diagnóstico.

Nos exames complementares de diagnóstico a radiografia aparecerá normal o que não deixará de ser um meio de diagnóstico de interesse já que permitirá perceber que o défice de rotação externa não advem de outras causas como degeneração articular, luxação consolida, etc.A ressonância magnética pode mostrar alterações da capsula articular compatíveis com esta doença e alterações inflamatórias ou estruturais dos tendões.

Por norma, os pacientes procuram ajuda especializada quando estão na fase dolorosa já há alguns meses e têm já défice de mobilidade ativa e passiva condicionando o dia-a-dia.

Do ponto de vista de abordagem terpêuticavárias têm sido as propostas de tratamento estudadas e aplicadas, nomeadamente injeções de corticosteroides, tratamento de fisioterapia, manipulação sob anestesia, libertação cirúrgica aberta e, mais recentemente, liberação capsular artroscópica.

Numa fase inicial de dor forte, a infiltração intra-articular é o ato médico que permite maios probabilidades de controlar o processo inflamatório levando a uma redução da dor, criando uma “janela de oportunidade” para o fisioterapeuta procurar ganhar a mobilidade perdida.

No âmbito do tratamento conservador poderão ser utilizadas opções de tratamento como terapia manual, low load prolonged stretch (LLPS) e exercício terapêutico.

Na minoria de casos em que não há resposta nem à infiltração nem à fisioterapia, a opção cirúrgica deve de ser equacionada.

Em síntese, a capsulite adesiva ou “ombro congelado” é uma doença na maioria das vezes de causa desconhecida, que acontece predominantemente em senhoras entre os 40 e os 60 anos de idade. Podemos diferenciar 3 estadios, sendo que a dor que progressivamente se instala no primeiro estadio, manifesta-se de forma exuberante de noite. Nos estadios seguintes a dor progressivamente vai diminuindo, assim como a rigidez articular.

O diagnóstico é feito pelo médico e o tratamento tem como objetivo controlar a dor, e, progressivamente recuperar a mobilidade e funcionalidade perdida.
 

Autor: Rodrigo Ruivo

Direção Clínica das Conchas

Doutorado em Motricidade Humana

Delegado Nacional da European Society for Shoulder and Elbow Rehabilitation

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