Dor, fraqueza ou adormecimento na parte interna do cotovelo? Sabe o que é?

Dor, fraqueza ou adormecimento na parte interna do cotovelo? Sabe o que é?
23.04.2025

Epicondilite medial do cotovelo (Golfers Elbow):
Uma visão geral e evidências atualizadas

A epicondilite medial do cotovelo mais vulgarmente conhecida como cotovelo de golfista (golfers elbow) é uma condição clínica caracterizada por dor e inflamação na região medial do cotovelo. Esta lesão ocorre, devido sobretudo, a movimentos repetitivos ou sobrecarga da musculatura, que se origina no epicôndilo medial do úmero, e é responsável pelos movimentos de flexão do punho, flexão dos dedos e pelo movimento de pronação.

Quais os principais sintomas?

  • Dor localizada na parte interna do cotovelo, que pode irradiar para o antebraço.
  • Sensibilidade ao toque na região do epicôndilo medial.
  • Fraqueza ou dificuldade em realizar movimentos de flexão do punho ou de preensão.
  • Rigidez matinal no cotovelo.

Como se diagnostica?

O diagnóstico desta patologia é baseado em testes específicos realizados durante o exame físico e numa correta interpretação do historial clínico do paciente. Contudo em casos mais graves ou persistentes, exames de imagem como a ecografia ou ressonância magnética podem ser necessários para confirmar o diagnóstico inicial ou avaliar lesões associadas.

Quais os tratamentos?

O tratamento da epicondilite medial varia consoante a gravidade dos sintomas e pode ser dividido em abordagens conservadora, intervencionista e, em casos mais graves pode ser mesmo necessária a intervenção cirúrgica.

Está descrito na literatura que a grande maioria dos pacientes apresenta melhorias significativas com o modelo conservador, tais como:

  • Reduzir ou evitar movimentos repetitivos de flexão do punho e de pronação (repouso relativo),
  • Aplicar compressas de gelo na área dorida por cerca de 15-20 minutos, 2-3 vezes ao dia, para reduzir a inflamação,
  • Uso de medicamentos analgésicos e anti-inflamatórios, devidamente aconselhados por um profissional de saúde para alívio da dor e controlo da inflamação
  • Fisioterapia focada em exercícios de alongamento e fortalecimento, com maior incidência nos músculos flexores do punho e do antebraço, como, terapias manuais para melhorar a mobilidade articular e técnicas de eletroterapia, tais como, ultrassom, laser e terapia por ondas de choque.

Quanto ao tratamento intervencionista, pode ser realizada uma infiltração de corticosteroides para alívio rápido da dor em alguns casos, mas o uso repetitivo desta técnica deve ser evitado devido ao risco de enfraquecimento das estruturas. Podem ser realizadas também injeções de plasma rico em plaquetas, técnica que utiliza os fatores de crescimento do próprio sangue do paciente para estimular a reparação tecidual e a terapia por ondas de choque com a finalidade de estimular a regeneração dos tecidos danificados e aliviar a dor.

Em casos mais graves ou refratários ao tratamento conservador (após um período de 6 a 12 meses), poderá ser necessário tratamento cirúrgico que consiste na remoção do tecido degenerado e reparação tecidual, podendo ser feito por técnica aberta ou por artroscopia. Quanto à reabilitação pós-cirúrgica, esta inclui fisioterapia e um programa específico e gradual de retorno às atividades normais prévias à lesão.

Como prevenir?

A prevenção da epicondilite medial está baseada na redução da sobrecarga das estruturas inseridas no epicôndilo medial, no fortalecimento adequado dos músculos envolvidos e na adoção de boas práticas em atividades físicas e ocupacionais.

Existem várias medidas que podem ser tomadas com a finalidade de diminuir o risco de desenvolver esta patologia, tais como:

  • Realizar alongamentos regulares dos músculos flexores do punho e do antebraço,
  • Fortalecimento progressivo, destes mesmos grupos musculares,
  • Ajustar o ambiente de trabalho, (altura da mesa de trabalho, cadeiras e ferramentas), para evitar posturas inadequadas ou sobrecarga nos músculos do antebraço,
  • Evitar movimentos repetitivos de flexão do punho e pronação por períodos prolongados,
  • Melhoria do gesto técnico em praticantes de desportos como o golfe ou o ténis,
  • Manter um programa regular de exercícios que inclua fortalecimento muscular e condicionamento cardiovascular, devendo evitar o aumento súbito na intensidade ou frequência da prática de atividades físicas, optando sempre por um aumento progressivo e gradual da intensidade.

Conclusão

Esta patologia (cotovelo de golfista), embora comum, continua a ser uma área alvo de pesquisa e avaliação contínua. Embora atualmente não exista uma intervenção única que proporcione sucesso universal, uma abordagem multidisciplinar envolvendo farmacologia, fisioterapia, ergonomia e em casos mais graves, potencialmente cirurgia, permite-nos gerir esta condição de forma eficaz na maioria dos casos.

Esta informação é meramente elucidativa e não se destina a substituir o concelho e a avaliação correta da parte de um profissional de saúde, pelo que se tiver algum dos sintomas acima referidos e/ou suspeitar que tem cotovelo de golfista, deve sempre procurar aconselhamento de um médico especializado.

 

Da autoria do fisioterapeuta João Cardoso

 

Referências

  • Kahn, K. M., Cook, J. L., Kannus, P., & Maffulli, N. (2000). Overuse tendon injuries: where does the science stand? British Journal of Sports Medicine, 34(3), 232-241.
  • Brukner, P., & Khan, K. (2017). Clinical Sports Medicine. 5ª edição. McGraw-Hill Education.
  • Ahmad, Z., Siddiqui, N., Malik, S. S., Abdus-Samee, M., Tytherleigh-Strong, G., & Rushton, N. (2013). Lateral epicondylitis: a review of pathology and management. The Bone & Joint Journal, 95(9), 1158-1164.
WhatsApp Logo
MARCAÇÃO ONLINE