Clube Judo Total

Clube Judo Total
30.01.2019

Clube Judo Total adapta-se a TI!

Já ouviu falar do Clube Judo Total? Pois bem, o slogan que utilizam já muito dirá do seu propósito.

Clube Judo Total adapta-se a TI!
Estivemos reunidos com os Mestres Fernando Seabra (5º Dan) e Jerónimo Ferreira (5º Dan), numa conversa extremamente amistosa, onde tivemos a oportunidade de conhecer melhor o projeto, a quem se destina, os seus objetivos e ambições, mas mais importante que tudo, ouvir histórias reais que estes Mestres de Judo vivenciam no seu dia-a-dia.
O Clube Judo Total é uma Organização Não Governamental de prática de Judo em que os conceitos de inclusão e igualdade são para cumprir à risca. Neste âmbito, os Mestres tiveram a preocupação de nos elucidar melhor sobre a visão do clube. 

“No nosso clube todas as áreas de deficiência podem praticar Judo connosco. Referimo-nos a praticantes cegos, surdos, deficientes motores ou afetados por paralisia cerebral. Naturalmente as aulas são também participadas por judocas que não exibem qualquer limitação numa perspetiva de integração total”

Pedimos que recuassem um pouco no tempo e nos contassem como tudo começou. Tínhamos a certeza que teriam alguma história para nos contar. 
Foi em 2004, nos Jogos de Atenas, que o desejo de criar o projeto Judo Total despoletou, começou por nos contar o Mestre Fernando Seabra. “Aquela realidade fez-nos constatar que num País como o nosso, onde o Judo já tinha uma boa projeção Nacional e Internacional, nada havia sido feito ao nível dos atletas paralímpicos.” 
Esta visita a Atenas foi a chama que despoletou nos Mestres a vontade de criar em Portugal o Judo Paralímpico. O Mestre Jerónimo Ferreira fez questão de nos esclarecer que

“O Judo Paralímpico é apenas para a deficiência visual e abarca os cegos totais, baixa visão e vai até ao nível de deficiência B3”.

Foi então em 2006 que lançaram o projeto “Judo Total” através da realização de um estágio Internacional em Lisboa, onde estiveram judocas oriundos da Suécia, França, Alemanha e Holanda. Relembrou o Mestre Jerónimo Ferreira que “o Ulisses Silva, campeão nacional de goalball (modalidade paralímpica), teve a sua primeira experiência com o Judo neste estágio Internacional”. 
Em 2007 o projeto “Judo Total” estava sediado no Judo Clube de Sintra. “Foi quando nos apareceu o 1º judoca cego, Carlos Dinis. O Carlos cegou bastante tarde, quando já era cinto azul de Judo e foi quando conheceu o projeto que voltou a treinar. Hoje com mais de 60 anos, é 2º Dan”, refere o Mestre Fernando Seabra. 
O nome “Judo Total” começou cada vez mais a fazer sentido, pois começaram a receber vários praticantes, com e sem deficiência.

“Inicialmente pensávamos em trabalhar apenas com cegos, mas a crescente procura de praticantes, com as mais variadas condições motoras e cognitivas, fez com que o nome já escolhido se ajustasse na perfeição”, confidenciou o Mestre Fernando Seabra.

O Mestre Jerónimo Ferreira fez questão de nos contar uma história daquele tempo: “Apareceu-nos um jovem com paralisia cerebral, com incapacidade de se movimentar de pé, que queria praticar Judo, e nós idealizámos uma aula de 2 horas (nas instalações do União Mucifalense), em que ninguém podia andar de pé, à exceção dos Mestres.” No final, a mãe do jovem disse aos Mestres, “vocês agora arranjaram um problema... Ele agora já não vai querer parar de fazer Judo”. O jovem, ainda hoje continua a fazer judo no Clube Judo Total.  
O projeto começou a ganhar cada vez mais expressão através do acolhimento de mais judocas, com diferentes deficiências. Os Mestres perceberam que dada a importância e crescimento do projeto era necessário institucionalizá-lo. Em 2011 foi então criado o Clube Judo Total, com a constituição dos seus órgãos sociais.
O Clube de Judo Total tem atualmente uma importância extrema na vida quotidiana de uma largo número de participantes, ao nível social, cultural e económica
“Aquilo que eles vivem no tapete é levado para o dia-a-dia. Tornam-se pessoas mais confiantes, conseguem movimentar-se melhor e têm uma perceção mais rápida do espaço onde estão inseridos e percebem mais rapidamente o que está a acontecer ao seu redor.” 

“Nós sabemos que são os atletas de competição que são tomados como exemplos a seguir e em certa medida são eles que dão projeção ao clube, mas nós temos outros praticantes que são autênticos guerreiros.”

A margem de progressão é efetivamente o grande indicador do sucesso do projeto, na medida em que há praticantes com maiores limitações motoras e/ou cognitivas mas que apresentam ao longo do tempo margens de progressão enormes. “ Nós temos por exemplo um cego, que quando chegou até nós, não sabia fazer o gesto de se ajoelhar e mal sabia correr. Hoje já é cinto castanho”, refere o Mestre Jerónimo Ferreira.
Passando para o treino propriamente dito o Mestre Fernando Seabra explicou-nos como estão organizados. 

“A nossa aula é para todos, com e sem deficiência. Temos uma aula dirigida para os mais pequeninos, a aula técnica e a aula de competição. Nestes grupos estão incluídos praticantes ditos “normais”, com paralisia cerebral, trissomia 21, cegos, surdos, entre outros. Mas todos treinam ao mesmo tempo.”

E reforça ainda que “embora tenha de existir um acompanhamento próximo e atento dos Mestres, e se tenham por vezes de realizar ligeiras adaptações na metodologia de ensino, o espírito de entreajuda entre praticantes com deficiência e sem deficiência é enorme e ninguém fica para trás. 
Como referido pelo Mestre Jerónimo Ferreira, uma dessas adaptações passa pela necessidade de uma maior verbalização dos movimentos. 
“Temos de saber sempre com quem estamos a trabalhar. Por exemplo, com os cegos temos de verbalizar ao máximo as nossas ações. E mesmo assim eles às vezes não conseguem perceber o que eu estou a dizer. Temos também de exemplificar com eles para mais fácil entendimento da técnica.”
Relativamente ao futuro, o Mestre Fernando Seabra não teve dúvidas na resposta. “ O que efetivamente nós queremos é que quem connosco esteja seja feliz. Um local onde se sintam bem e onde tenham prazer no que fazem. Se é competição, perfeito, se é lúdico, perfeito também.” E acrescenta,

“Em termos mais concretos, a ideia passa por fazer crescer o número de praticantes e apostar no plano competitivo, sendo que temos 3 atletas a lutar pela presença nos próximos jogos Paralímpicos. O Djibrilo Iafá, Magnos Nhanco e o Miguel Vieira.”

As instalações de treino do Clube Judo Total situam-se na Pista Prof. Moniz Pereira, em Lisboa. Os treinos realizam-se às segundas, quartas e sextas, entre as 18h00 e as 20h30 (18h00-18h45 aula dos mais novos; 18h45-19h45 aula técnica; 19h45-20h30 aula de competição), e aos sábados, entre as 08h00 e as 10h30. As quotas são de 15€/mês para praticantes e 5€/mês para não praticantes, embora o Mestre Fernando Seabra tivesse a preocupação de referir

“Quem não tiver disponibilidade financeira, em algum momento será impossibilitado de treinar connosco”.

O Clube Judo Total tem o seu site oficial (ver aqui) e a sua página no Facebook (ver aqui), onde poderá consultar todas as atividades em que estão envolvidos anualmente.

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